Harmonizando a vida com cervejas, comidas de botequim e amizade

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Meus ídolos são cervejeiros – FESTIVAL ÁGUA NA BOCA 2011 AL MARE (JORNAL O GLOBO) / NOI CERVEJARIA ARTESANAL

               Há uma semana, em 16/08/2011, realizado pelo Jornal O Globo, através do Festival Água na Boca 2011 – Al Mare, promovido na Noi Cervejaria Artesanal, em Itaipú, Niterói/RJ, ocorreu o encontro “Conceituando as cervejas artesanais” com palestra e degustação gratuitas a cargo de Osmar Buzin, proprietário da cervejaria e de vários restaurantes da região.
               Osmar acabou passando a bola, de forma feliz, aos cervejeiros de mão cheia, Leonardo Botto, cervejeiro caseiro do Rio, sommelier de cerveja, fundador e atual presidente da AcervA Carioca, e Marcelo Carneiro, proprietário da Cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto/SP, há mais de quinze anos fazendo cervejas com identidade brasileira, vide uso de ingredientes como mandioca, mel, rapadura, café, rapadura queimada e castanha-do-pará, por exemplo.
               Disse que o anfitrião foi feliz ao substituir-se, não porque não entenda de cervejas, longe disso. Ter uma cervejaria como a Noi, por sinal a 1ª. cervejaria de Niterói, mostra o conhecimento e acuro que ele teve ao criá-la, mas foi inteligente ao abrir suas portas ao Botto e Marcelo para ministrarem o evento, grandes conhecedores que são do assunto e referências no mundo cervejeiro brasileiro. O próprio Botto, inclusive, foi responsável pela elaboração de alguns rótulos em parceria com o mestre-cervejeiro da Noi. Seja o espectador iniciante, avesso ao mundo cervejeiro ou já experiente e familiar no assunto, é contagiante ouvi-los palestrando sobre a nobre e popular bebida, explicando dados técnicos, divagando sobre sua rica e antiga história, servindo de guias para um mundo novo a ser desbravado.
fachada da cervejaria e o Noi Truck Beer, choperia móvel que pode ser alugada para comemorações
               Mas como falar de cerveja dá sede e o objetivo da cervejaria, além de palestrar sobre, era oferecer degustação de suas criações, estas logo foram servidas e analisadas. Os primeiros chopes foram a Bionda e a Bionda Oro, respectivamente uma Pilsen filtrada e não filtrada, e devido a isso a aparência da primeira era límpida e dourada, da outra era turva. Ambas eram bem leves, delicadas e refrescantes, sendo a segunda um pouco mais encorpada e mais amarga, com o fermento mais presente.
Bionda (Pilsen - 4% APV) e Bionda Oro (Pilsen Premium - 4,5% APV)
               Os próximos chopes servidos vieram acompanhados de pratos elaborados pelo Fernando, cozinheiro do restaurante da casa, que recebeu orientações do Botto para que esses harmonizassem com as cervejas oferecidas. Intercalando as degustações, explicações eram dadas sobre as cervejas e pratos apresentados, destacando as sensações que ambos ofereciam ao degustador. O primeiro prato foi um caldo de frutos do mar, harmonizando com o chope Bianca. Com notas de cravo, tutti-frutti e banana, frutada e com ligeiro sabor de maçã, esse chope de trigo casou com o caldo por semelhança, pois ambos eram leves, e a carbonatação alta da bebida limpou o paladar.
Bianca (Weiss - 4,9% APV) e Avena (Golden Ale - 5,2% APV)
               Do estilo Golden Ale, a Avena foi a próxima cerveja servida, trazendo boas notas frutadas e cítricas, aroma de pêssego e sabor de mel. Na receita é inserido mel de laranjeira e ela tinha um médio adocidado. Harmonizou com o risoto de pato ao creme de Avena, servido em torradas. Nem preciso dizer que a harmonização foi perfeita, quem já comeu pato com laranja sabe disso.
Osmar Buzin (azul), Leonardo Botto (óculos), Marcelo Carneiro (preto) e o cozinheiro Fernando
               Pratos gordurosos pedem cervejas mais alcoólicas e robustas. Portanto para acompanhar a carne de cordeiro com molho de cerveja e hortelã, tinha que ser uma cerveja que tivesse esses requisitos. De cor vermelha, rubi, o chope Rossa foi uma boa companheira, pois tinha o essencial que o prato pedia: corpo e álcool elevados para cortar a gordura, malte torrado, leve defumado e caramelo para combinar com o tostado e o doce da carne.
Rossa (Irish Red Ale - 5,8% APV) e Nera (Dunkel - 5% APV)
               Muitos jamais sonhariam em beber cerveja com algum tipo de doce, pois aos incrédulos, foi esse justamente o último prato servido, um ganache de chocolate com cerveja e alecrim, harmonizado com o chope Nera, cerveja rica em aromas e sabores de café e chocolate. Mesmo com essas notas ela não é doce, mas bem amarga e seca, portanto nada enjoativa.
tanques de fermentação da Noi
               Ambiente agradável, harmonizações mais que perfeitas, palestra muito bem ministrada, público deliciado e saciado, dúvidas e mitos acerca da cerveja desvendados, o encontro foi ótimo, agradando todos os presentes, mas ao menos para mim o encontro ainda não tinha encerrado. Gentilmente o Botto me mostrou a fábrica por dentro, explicando rapidamente o funcionamento da mesma e seus equipamentos. Antes vista atrás dos vidros, pude ver de perto como eram grandes os tanques de maturação e fermentação, a qualidade dos equipamentos e maquinário apresentados, o cuidado necessário e o trabalho que dá fazer cerveja, mesmo tratando-se de uma micro-cervejaria artesanal.
moedor de cereais maltados e detalhe da conexão direta ao tanque
tanques de maturação e fermentação com temperatura controlada. variedade de maquinários e equipamentos. engarrafadora ainda em testes para futuro lançamento da linha de garrafas.
               Uma curiosidade: durante o evento passaram de mesa em mesa alguns insumos, como variedades de maltes e lúpulos, para que o público presente pudesse conhecer de perto os ingredientes, além da água e fermento, usados na fabricação de cervejas. Na minha mesa passou o lúpulo americano Cascade. Não contente em apenas cheirá-lo, comi um. Mais tarde em casa, bem após a realização do evento, mas ainda no mesmo dia, abri uma cerveja para beber, a 3 Lobos Exterminador, da micro-cervejaria mineira Backer, que usa capim limão na receita. Qual não foi minha surpresa ao encontrar o lúpulo Cascade no aroma e sabor desta, tão vívido estava na minha memória, nariz e boca. Sabores cítricos, de manga e melão também estavam bem presentes. Mas foi curioso, coincidências também acontecem no mundo cervejeiro.
cheirando o lúpulo americano Cascade e a 3 Lobos Exterminador (American Wheat - 4,5% APV)
               Depois desse encontro percebi que, da mesma forma que já tive e ainda tenho ídolos no esporte, cinema, literatura e música, por exemplo, atualmente meus ídolos são todos cervejeiros. Acompanhar esses caras em seus blogs ou em notícias do meio cervejeiro, beber suas cervejas, sempre aguardando o próximo lançamento, e estar em contato com eles, que humildemente conversam e explicam suas técnicas como iguais, não tem preço! Digo que como fã, me senti muito realizado. Faltou apenas ter pedido um autógrafo a eles.
momento tiete com os mestres Leonardo Botto e Marcelo Carneiro

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Feliz Aniversário atrasado - BOTECO COLARINHO

               Prosseguindo com a infeliz mania de publicar postagens atrasadas, mas valendo-me da velha máxima “o que vale é a intenção”, nunca é tarde para falar do aniversariante do mês de agosto, que de desgosto nada tem, o Boteco Colarinho. Parabéns pelo 1 ano de atividade, comemorado sábado penúltimo, 13/08/2011.
Mistura Clássica de Trigo (German Weizen - 5% APV)
               A primeira vez que soube deles foi através de matéria publicada no suplemento carioca de uma revista dominical e pela postagem no blog da FemAle Carioca. Ambos enalteciam as deliciosas comidas e petiscos oferecidos, a vasta carta de cervejas engarrafadas e, principalmente a exagerada quantidade de torneiras de chope (seis) instaladas, cada uma servindo um chope exclusivo, nunca repetido, dos mais variados estilos.
Estrada Real IPA Falke Bier (India Pale Ale - 7,5% APV)
               Impossível contar nos dedos a quantidade de vezes em que fui para apreciar o lançamento de um chope novo recém plugado na torneira, inclusive alguns lançamentos são tão concorridos que ocorre do barril durar apenas uma noite! Minha namorada e eu já comemoramos nossos aniversários lá, e seja em final de expediente ou fim-de-semana sempre dou um pulo, só não sou mais assíduo devido a distância intermunicipal que me separa e àquela preguiça que dá em alguns momentos para atravessar a ponte Rio-Niterói, senão corria o risco de ser freguês diário.ojeHoj
combinação matadora: feijão amigo + chope / comemorçaão de aniversário / Colorado Double Indica (Double India Pale Ale - 9,5% APV)
               AtualmentaSSS Atualmente aumentou para nove a quantidade total de chopeiras, continuando sem repetir os chopes servidos e até em votação eles já participaram, promovida pela curitibana Cervejaria BodeBrown, para escolha de dois locais no Rio (que foi a cidade mais votada na enquete) que receberiam com exclusividade o chope Perigosa Imperial Milk Stout. Os ganhadores? Beer Jack e Boteco Colarinho.
Perigosa Imperial Milk Stout (Russian Imperial Stout - 14,5% APV)
               A comida é ótima, o ambiente idem, mas sempre que vou lá é principalmente para beber chope, preferencialmente um chope inédito e esse rodízio é que me motiva e creio ser o grande trunfo deles, sempre renovar trazendo algo novo, continuando a atrair velhos freqüentadores sempre sedentos por novidades. Ao público recém chegado, muitos indecisos devido a grande variedade ou acostumados apenas às cervejas do dia-a-dia, eles também servem chopp Brahma, que pode servir como uma porta de entrada ao vasto mundo das cervejas especiais. Passando de brahmeiros para apreciadores de #cerveja de verdade.
Falke Tripel Monasterium (Belgian Tripel - 9% APV)
               Da infinidade de chopes, alguns nem existem mais, caso do Botto Bier München Hell, do cervejeiro carioca Leonardo Botto, que o fazia via Cervejaria Rötter, de Barra do Piraí. Foi um dos primeiros artesanais a serem vendidos lá, servido em canecas de 300, 500 ml ou em 1 litro, fazia muito sucesso, e o próprio Botto é assíduo freqüentador de lá.
Botto Bier München Hell (Munich Helles - 5,1% APV) nas versões "mass" (1 litro) e 300 ml. Detalhe da caricatura no porta-copo
               Também já serviram como plataforma para lançamento de cervejas novas, como por exemplo a Bierland Vienna, da Cervejaria Bierland, de Blumenau, que a lançou em primeira mão no Boteco Colarinho em versão chope, que tão logo esvaziou o barril não foi mais feito, apenas comercializada em garrafa. Outro que fez um lançamento lá foi o célebre Marco Falcone, proprietário da mineira Falke Bier, que compareceu pessoalmente para lançamento do chope American IPA, outra que fez muito sucesso e acabou rapidinho. Já receberam outras visitas ilustres de proprietários de cervejarias artesanais brasileiras e até celebridades-cervejeiras internacionais. Curioso também o caso da Dado Bier, cervejaria gaúcha que convidou os cervejeiros cariocas Ricardo RosaMauro Nogueira para elaborarem uma cerveja com adição de Chocolate Kopenhagem, daí surgiu a Dado Bier Double Chocolate Stout, que infelizmente teve seu registro vedado junto ao MAPA por conter leite em pó na receita. Das poucas garrafas que foram feitas (100 apenas) seu lançamento ocorreu em festa promovida pela cervejaria no Boteco Colarinho para alegria de poucos felizardos que a degustaram.
La Trappe Quadrupel (Belgian Specialty Ale/Quadrupel - 10% APV)
               Chopes gringos sempre estão presentes e ao menos um é certo de encontrar em alguma das nove chopeiras. Já serviram a premiada belga Delirium Tremens, servida em copo próprio desenhado com elefantinhos cor-de-rosa, que é o mascote da cerveja, a trapista La Trappe Quadrupel, que mesmo com seu abusivo teor alcoólico de 10% não assustava aos corajosos que a tomavam, devido a rica complexidade de aromas e sabores que ela apresentava, e a escocesa BrewDog, especialista em cervejas extremas e especiais, representada com 3 variedades de chopes, 5 a.m. Saint, Trashy Blond e a Punk IPA (que já pude experimentar), servidos intercaladamente.
Punk IPA (India Pale Ale - 6% APV). Detalhe do "Jornal do Barril"
               Os acepipes, comidinhas, petiscos, comidas de buteco, seja qual nome usado, são um caso a parte. Presença primordial em qualquer bar a comida de botequim serve para compor o trio junto com a cerveja e a conversa jogada fora.  O bar deve ter o cuidado em oferecer variedade, vastas opções e acuro no preparo. Lá tem isso tudo. Servem empadas, pastéis, pratos, porções, caldos, sopas, e por aí vai. Meus preferidos: feijão amigo, que é um dos que sempre peço, quase como uma obrigação, sempre servido quentinho e saboroso, excelente acompanhante para chopes escuros, carregados em maltes torrados ou defumados; bolinho de batata baroa com gorgonzola, que chega a derreter e de tão quente queima a boca, ideal companheiro da extinta Botto Bier; pastel de feijoada que me soa mais como uma feijoada no pastel devido ao excessivo e bem servido recheio, sempre fresquinho. Outro de minha preferência que passou a existir esse ano foi o Toca do Matuto, bolinho de berinjela empanado no Doritos com recheio de carne seca e azeitona, que participou do Comida di Buteco 2011 como melhor tira-gosto. Não ganhou, mas o manteram no cardápio, então quem ganhou fomos nós.
Bamberg Helles (Munich Helles - 5,2% APV) versão 500 ml e caldinho de feijão amigo para acompanhar
Colorado Grão-Pará (American Brown Ale - 8% APV) acompanhada de empada de frango com catupiry e pastel de feijoada
               Noves torneiras de chope, variedade de comidas, atendimento de primeira, mas o melhor que o Boteco Colarinho tem a oferecer somos nós mesmos, o maior sucesso de qualquer bar, por mais que ele tenha uma gama de atrativos, nós que o tornamos o sucesso que é. Nada melhor que freqüentar um local que nos sintamos bem, à vontade, mesmo que muitas vezes a custo de filas, mas que possamos nos deliciar com suas ofertas, mas principalmente nos deleitar e regozijar com nós mesmos, nossos amigos, familiares, colegas de trabalho, ou a sós conversando com o garçom amigo. O maior sucesso que o Boteco Colarinho tem a oferecer é o reflexo da amizade que cada um de nós carrega com aqueles que temos prazer em dividir a vida e brindar o próximo chope. Tim tim!
Bamberg Helles (Munich Helles - 5,2% APV) versão "mass" (1 litro). Um brinde à amizade!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Doce de abóbora da vó – SAUBER BEER, RED RACER BEER

Sauber Beer Pumpkin Ale (6,5% APV)
Representante que melhor simboliza o Halloween, festa celebrada com maior relevância na cultura norte-americana, não teria ingrediente melhor para ser usado na criação de um estilo de cervejas originalmente americano e carregado de festividade, que não fosse ela, a abóbora.
Red Racer Pumpkin Ale (5% APV)
      Geralmente fabricada sazonalmente pelas cervejarias, o estilo Pumpkin Ale nada mais é que o uso da abóbora de qualquer espécie, em pedaços cortados, como purê ou aromatizante, adicionada no processo de mosturação durante a fabricação da cerveja. A adição de variedades de especiarias também é permitido, como por exemplo canela, noz moscada, cravo e gengibre. Na verdade o uso da abóbora enquadra a cerveja à categoria de Spice/Herb/Vegetable Beers, ou seja, uso de especiarias, ervas, legumes ou vegetais, que são adicionados a um determinado estilo, a fim de temperar a cerveja, acrescentando novas sensações a ela, mas sem sobrepujar o estilo original proposto.
cor mais escura e um pouco turva
É uma cerveja carregada de ineditismo, porém já encontrada no Brasil pela artesanal Sauber Beer, de Mogi Mirim-SP, que produz uma variedade de mais de 15 estilos de cerveja, sendo o estilo com abóbora o mais procurado, mas também o mais trabalhoso ao cervejeiro, devido ao cansativo processo de filtragem e clarificação pelo qual esse tipo de cerveja passa. Além do óbvio toque de doce de abóbora que ela possui, este é sutil e nada enjoativo, e especiarias como canela em pau e cravo-da-índia também são sentidos. O malte e o lúpulo aparecem em segundo plano, com o lúpulo mais presente no sabor, diria até que senti levíssimo cítrico.
(Mais da Sauber Beer Pumpking Ale no programa da rádio CBN, Pão e Cerveja:
CBN - A rádio que toca notícia - On demand)

cor mais clara e translúcida
Já na Pumpkin Ale da canadense Red Racer Beer, da Central City Brewing Co., achei o doce de abóbora predominando em absoluto o aroma da cerveja que traz ainda notas de caramelo. O sabor é menos carregado, com presenças de tostado, caramelo do malte e lúpulo, mas mesmo assim o doce de abóbora continua bem evidenciado, camuflando um pouco as outras sensações. Poderia ser mais dosado, mas mesmo assim ela não é enjoativa.
Diferenças à parte, ambas as cervejas carregam altas doses de nostalgia. Impossível, ao bebê-las, não recordar-se do doce de abóbora que nossas avós faziam. Veio-me logo à mente as viagens que fazia durante minha infância à casa de minha vó Glorinha, que morava no interior do estado do Rio, Vassouras. Quando lá chegava sempre tinha um doce de abóbora fresquinho me esperando, minha mãe até dizia que ela tinha feito especialmente para mim. Não sei se era verdade ou se dizia isso apenas para me convencer a comê-lo, mas era desnecessário, pois eu sempre o comia e repetia várias vezes. Na minha própria casa, feito por minha mãe, embora igualmente delicioso, eu o dispensava, talvez não tivesse o encanto das avós ou faltava o ar interiorano ao ambiente. Mas calma minha mãe, seu futuro neto provavelmente fará minhas honras, comendo seu doce até o êxtase.
Falando em comida e em minha avó, lembro que ela também fazia uma deliciosa galinha assada, também divina. Mas isso é papo para outra história e, quem sabe, para outra cerveja.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Uma cerveja para ser tragada e a bala que não acaba nunca – COMPANHIA CERVEJARIA JAMBREIRO

Já tive a felicidade de experimentar quase todas as cervejas da Companhia Cervejaria Jambreiro, artesanal mineira que sempre abocanha prêmios nos concursos de cervejas artesanais que participa. Seus rótulos sempre trazem estampada a figura da cadelinha Nina, mascote da cervejaria e que acompanha, de longe, as produções, a cargo de uma única pessoa, o mestre cervejeiro e faz tudo, Humberto Ribeiro Mendes Neto, que diz que de tão pequena, a Jambreiro seria melhor qualificada como nano, pico ou até mesmo femtocervejaria.
Jambreiros: Blondie, LebensKraft, Belgian Dark Strong Ale, Bâdil, Cerevisiae Lundii e Eisbier. Só faltou a Barley Wine.
detalhes que fazem toda a diferença
Posso afirmar que todas suas cervejas possuem uma identidade própria, ao bebê-las você sabe que está tomando uma cerveja da Jambreiro, seja qual delas estiver no copo. Diria que possuem alma própria, e que esta é a extensão da alma de seu mestre cervejeiro. Mesmo sua última criação, com toda a complexidade e sensações de aromas e sabores que apresenta, continua tendo a mesma identidade Jambreiro de sempre, o que é ótimo, quase funcionando como um padrão de qualidade.
Jambreiro Cerevisiae Lundii (Other Smoked Ale - 10% APV)
E essa nova criação, a Cerevisiae Lundii, é uma autêntica Jambreiro! E única também. Imagine adicionar doce-de-leite e folhas de erva-cidreira a uma cerveja. Com uma forte sensação de tabaco do início ao fim, mantendo-se até o gostinho final que fica na boca depois que damos uma golada, a sensação que fica é a mesma de tragar um charuto! Altas notas acarvalhadas, defumadas e envelhecidas, mas muito bem inseridas, a fim de não tornar a cerveja pesada, ao contrário, ela mostra-se extremamente aveludada, preenchendo toda a boca, que ainda traz um frescor ímpar (sabe bala Halls?). O teor alcoólico elevado passa batido, mais sentido, embora levemente, no aroma conforme a cerveja vai esquentando no copo.
Nem menciono todo o cuidado na embalagem e o “mimo” da barrinha de doce-de-leite que a acompanha (as meninas certamente acharão tudo isso muito fofo). Também nem menciono a perfeita harmonização gastronômica da citada barrinha com a cerveja, um casamento de gala, perfeito!
um pedaço + uma golada = casamento perfeito
Uma cerveja pra beber hoje, amanhã e com potencial para ser guardada e apreciada daqui uns anos, evoluindo com o envelhecimento. Para ser tomada só, acompanhado e/ou para presentear terceiros. E a maior prova que ela nos fornece para confirmar o espetáculo de cerveja que é, é a tristeza que causa no degustador quando o líquido da garrafa começa a esvair-se.
Se o filme A Fantástica Fábrica de Chocolate fosse parodiado pelo mundo cervejeiro, a Jambreiro Cerevisiae Lundii seria a bala que não acaba nunca.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Feliz atrasado Dia Internacional da Cerveja – CERVEJARIA ST. GALLEN, CERVEJARIA WÄLS, CERVEJARIA RÖTER BRAUHOF

Sexta-feira última foi celebrado o Dia Internacional da Cerveja. Data criada em 2007 por um grupo de amigos norte-americanos, e sempre comemorada em 05/08, com o intuito de beber boas cervejas de diferentes culturas com bons amigos, em homenagem aos mestre-cervejeiros e garçons que nos servem, inclusive já podendo ser acompanhada a contagem regressiva para 2012. Acompanhante fiel a todo tipo de encontros e comemorações nada mais justo que a homenageada da vez seja a própria cerveja, reforçando ainda mais os motivos para bebê-la, ao menos nesse dia.
            Minha celebração começou com a compra de alguns materiais (moinho de cereais, balança, fogareiro), a fim de começar minha produção caseira de cervejas artesanais. Sonho antigo que, brevemente espero, será posto em prática em conjunto com alguns amigos, também entusiastas cervejeiros e outros mais experientes nesta prática.
Therezópolis Gold (Premium American Lager, 5% APV)
            Depois das compras, beber! Mais especificamente no bar/restaurante Cervisia 1516. As atividades foram iniciadas com chope Therezópolis Gold, que já tinha experimentado em versão engarrafada, na pressão era a primeira vez. Em garrafa lembro que ela tinha uma boa carga de malte, mas na pressão, ou foi meu paladar que mudou com o tempo, a achei aguada e com gosto metálico. Até um bem tirado chope Brahma me agradaria mais. Ao menos ela matou a sede.
Wäls Quadruppel (Strong Dark Ale/Quadrupel - 11% APV)
            A próxima foi a Wäls Quadruppel e a escolha não poderia ser mais acertada, instantaneamente virei fã dessa cerveja. Com o quádruplo de malte a mais do que uma cerveja “comum” utilizaria ela ainda é maturada com chips de carvalho francês antes embebidos em cachaça mineira. Com grande formação de uma cremosa espuma, alto teor alcoólico, e sabores de chocolate, madeira, baunilha e ameixa, ela poderia ter encerrado a noite com chave de ouro, mas maiores surpresas estavam por vir.
Wäls Qadruppel e o delicioso caldinho de feijão amigo acompanhado de pão francês com ervas. Detalhe pro azeite na garrafa da mexicana Corona
? (Barley Wine - 11% APV)
            Rogério Vasconcellos, um dos sócios do bar, realiza cursos de fabricação de cerveja artesanal, inclusive eu já participei de um destes cursos, onde confesso que mais bebi que aprendi, mas que atualmente não estão mais sendo ministrados por falta de tempo, porém ele continua fazendo suas cervejas em casa, e fui agraciado com uma de suas crias. Feita em conjunto com outro aluno de um de seus cursos, experimentei sua Barley Wine (estilo assim chamado devido ao alto teor alcoólico, como o vinho), que embora estivesse com pouco gás carbônico, posso garantir que foi uma das melhores cervejas que já experimentei na vida. Com fortes aromas/sabores de noz, avelã e castanha, e ainda trazendo notas amadeiradas (e segundo eles ela não foi maturada em barris de madeira), brinquei com eles que deveriam lançá-la como uma cerveja natalina, onde teria uma infinidade de pratos para harmonizações.
chope Röter e pizza de pepperoni
com mussarela de búfala
            Para fechar a noite, em outro local tomei o sempre cremoso e puro malte chope Pilsen da Röter, de Barra do Piraí.
           E que venha 2012 com outro Dia Internacional da Cerveja!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Feliz #IPAday - BROOKLYN BREWERY

Tudo bem que na folhinha de seu calendário não consta isso, mas caso não saiba hoje é celebrado entre o meio cervejeiro o primeiro Dia Internacional das cervejas do estilo India Pale Ale, o já oficial #IPAday.
Mas o que é India Pale Ale ou, simplesmente, IPA ??? Segundo o livro Larousse da Cerveja, do Ronaldo Morado:
"Cerveja do século XVIII, fabricada especialmente para os oficiais do Exército Britânico residentes na Índia durante o período colonial, que enfrentavam calor insuportável e ausência de água potável.
Para ajudar a suportar a longa viagem desde a Inglaterra, sujeita a variações de temperatura e muito chacoalhar, a bebida era produzida com bastante lúpulo, o que lhe conferia sabor fortemente frutado e maior teor alcoólico."
Valendo ressaltar ainda que naquela época não existia geladeira, portanto não tinha como conservar as cervejas que estragavam antes de chegar ao destino. A única solução era adicionar mais lúpulo, um conservante natural, e aumentar o teor alcoólico para que ela não estragasse durante o transporte.
Brooklyn East India Pale Ale (IPA - 6,9% APV) 
harmonizando lindamente com queijo St. Paulin
Em 2010 algumas cervejas de micro cervejarias americanas aportaram no Brasil e dentre estas as que apresentaram melhor custo-benefício foram as cervejas da Brooklyn Brewery, que inclusive continua sendo a única representante americana ainda comercializada aqui. Após tê-las experimentado me tornei, de imediato, fã da East India Pale Ale. Era a primeira vez que sentia numa cerveja, em especial do estilo IPA, aromas cítricos tão evidentes como a laranja e o maracujá, também presentes no sabor (onde também percebemos o melão), tornando naquele momento essa cerveja especial e única para mim. Hoje, depois de ter degustado várias outras cervejas da escola americana e de outras regiões, já reconheço que esta IPA da Brooklyn é apenas mais uma dentre várias a nos presentear com esses aromas e sabores carregados do frescor das frutas tropicais.
Portanto não tinha como ser outra a não ser ela a minha representante para simbolizar o dia de hoje, 04/08/2011, desejando a todos um happy #IPAday.