Harmonizando a vida com cervejas, comidas de botequim e amizade

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Café, cachaça e um pouco de cerveja – FESTIVAL VALE DO CAFÉ 2011 (VASSOURAS)

as marcas Café Favorito e Café Capital
artesanato local e pé de café
O Festival Vale do Café, anualmente realizado nas cidades da região do Vale do Paraíba do estado do Rio de Janeiro, tem como na cidade de Vassouras o principal local onde é realizada a maioria da programação. Com atrações gratuitas realizadas majoritariamente na Praça Barão de Campo Belo, no Centro, e eventos pagos, geralmente localizados nas fazendas da região. Promovendo concertos em fazendas, shows em praças públicas, cortejos de tradições, palestras e cursos de gastronomia e música, o festival é muito rico, contando com diversas opções de lazer, muitas delas gratuitas, e propagando a história cultural da região do Vale do Café.
variados e deliciosos caldos
Há anos frequento o festival e essa visita constante é facilitada graças a minha família materna ser de lá, de Vassouras. Embora minha estadia tenha sido curta, dois dias, a edição de 2011 foi uma das mais agradáveis que já presenciei, pois contou com fatores adversos ao evento em si: não estava tão frio, que geralmente é “de cortar”, onde a ode à degustação de cachaças, antes prazerosa, torna-se obrigatória e necessária à sobrevivência; e a grata surpresa em encontrar cervejas de qualidade à venda na interiorana cidade sul fluminense.
As aulas de gastronomia são realizadas por renomados chefes de cozinha ensinando a fazer desde um consommé a pastéis com recheio de café, oferecendo ao final uma prova aos presentes. Falando em comida existem várias opções de restaurantes, bares e hotéis da região, oferecendo cardápios do simples ao mais sofisticado prato.
Como o mote do festival é o café, obviamente que tudo na cidade remeta a ele, seja na apresentação das fazendas com seus históricos cafezais, no artesanato local com o uso de grãos de café na elaboração de objetos decorativos, nas bebidas alcoólicas que usam o café como base da receita, aos bares que ofereciam o próprio para ser degustado. Só achei pouco, duas apenas, a quantidade de marcas de café presentes no festival.
comida japonesa, tiras de filet com molhos madeira e gorgonzola, 3x1 com molhos tártaro e rosé
barris decorativos e cachaças Pilão
variados licores e bala de pinga
Chama atenção a grande variedade de bebidas artesanais como cachaças e licores de várias cidades como Vassouras, Paty do Alferes e Miguel Pereira, e muitas dessas são cachaças premiadas e de qualidade reconhecida nacionalmente. Com várias opções a venda, da pura branquinha à envelhecida por anos em barris de carvalho, passando pelos preços mais baratos e até beirando os cem reais.
cachaças premium: Magnífica Reserva Soleira (3 anos env.) e Guaribu Jabuticaba (8 anos env.)
Mas como é um blog sobre cerveja, vamos a elas. Apareceram timidamente, mas de certa forma muito bem representadas em alguns bares/restaurantes da região. Embora o que domine sejam marcas do grupo AB-Inbev, as malfadadas cervejas de boteco, encontrei representantes do grupo Petrópolis, com suas cervejas da linha Petra, e do grupo Schincariol, com as linhas Devassa, Baden Baden e Eisenbahn. Felizmente elas eram vendias por preços justos e até mesmo nos copos corretos, o que ajudava em muito na degustação.
Petras: Weiss Bier e Stark Bier (ótima!), Eisenbahns: 5 (maravilhosa!) e Strong Golden Ale, Devassas: Negra e Ruiva
Embora alguns artistas já tenham se apresentado, Mart’nália, Yamandu Costa e Bia Bedran, por exemplo, ainda dá tempo de prestigiar muita coisa, pois o festival encerra-se no dia 31 de julho. O maior destaque do festival, em minha opinião, ficou com o Cortejo de Tradições. Inicialmente em fila, para depois dispersarem-se ordenadamente em vários locais fixos da praça, foi de arrepiar e emocionar a apresentação de vários grupos culturais como a Folia de Reis, o Jongo, a Capoeira, o Maculelê, a Caninha-Verde, o Calango e os Rezadores.

Uma Perpétua com corpo de Tieta – VILÃ (CERVEJA DE CALDEIRÃO)

olhos vilipendiosos que nos seguem
informações complementares no contra-rótulo
Carregado de dramaticidade e na maioria das vezes caindo em desgraça perante o público que torce por sua derrocada, o papel do vilão é um dos mais difíceis de interpretação para qualquer ator. Perfeitamente interpretada pela atriz Joana Fomm, a beata Perpétua era a vilã da telenovela Tieta, sucesso da rede Globo do início dos anos 90 e várias vezes reprisada, que tinha como protagonista a personagem homônima, interpretada por Betty Faria. Como na maioria das tramas novelísticas, vilões e bandidos geram suas rusgas motivados por dessemelhanças entre si sejam elas quais forem. Enquanto Tieta era independente, exuberante e dona de si, Perpétua era recalcada, manipuladora e mal amada, mas eram irmãs e automaticamente obrigadas a se aturarem.
ao lado de Perpétua está a Vilã Catherine Tramell (Belgian Blonde Ale - 7% APV), que leva mel na receita
Vilã Stout Perpétua (Stout - 5% APV), que leva melaço na receita
Eu diria que a cerveja Vilã Stout Perpétua, ludicamente batizada com o nome de uma famosa vilã assim como as demais crias da mineira caseira Cerveja de Caldeirão, é um misto de ambas, de vilã e mocinha, de Perpétua e Tieta. Acho até que mais de Tieta que Perpétua.
À primeira vista ela tem o visual de Perpétua. Seja na coloração preta igual a usual indumentária da antagonista, que usava roupas pretas, fechadas e pesadas, sempre de luto, da cabeça aos pés; à teimosia de sua rixa com Tieta, que nunca cedia a suas vontades, na cerveja sua volumosa e insistente espuma também teimosamente se mantém rija no topo do copo, sem descer do patamar em nenhum instante.
espuma cremosíssima, um verdadeiro pavê
Mas profundamente, internamente, ela é toda Tieta, que na época atraía milhões de espectadores graças aos atributos físicos da atriz Betty Faria, a cerveja também é muito atraente e nos faz salivar. Com corpo aveludado, robusto e muito gostosa, quanto mais o líquido vai esquentando mais sabores vão se desprendendo e sendo evidenciados: café, chocolate amargo, baunilha, nozes. Coroando sua riqueza ocorre a formação de espuma cremosa para ser provada com colheradas como um doce de pavê que vai derretendo na boca causando verdadeiro delírio.
Chega a dar tristeza quando a cerveja chega ao fim, restando a ansiedade por mais um capítulo e o conforto por mais uma reprise.
                Uma óbvia dica de harmonizaSOM: beba essa cerveja ao som do tema de abertura da telenovela, a clássica lambada do cantor baiano Luiz Caldas.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Cerveja para punks – BREWDOG

                Faça você mesmo. Com o lema do movimento punk embaixo do braço (e empréstimos junto a instituições bancárias) dois amigos escoceses, cansados das cervejas de massa dominantes no Reino Unido, que lá como cá também sofre com a imposição, via lavagem cerebral, das cervejas de mercado, resolveram criar sua própria cervejaria, a BrewDog, que viria a fazer modernas releituras de estilos clássicos europeus, usando como inspiração a atual escola cervejeira americana, inclusive na elaboração de cervejas incomuns, mais extremas e alcoólicas.
deboche e irreverência marcam as propagandas da escocesa BrewDog
                Seu posicionamento é claro ao declarar guerra às cervejas leves, sem sabor, sem cheiro e sem graça. Eles querem destruí-las! Longe de ir contra o popular o que querem é mostrar que existe outro mundo cervejeiro, apontando que é possível encontrar variedade, opções e sensações muitas vezes desconhecidas, indo de encontro ao que prega a indústria através da mesmice de suas cervejas, forçando o consumidor final a crer que só existe aquilo que oferecem.
frase BEER FOR PUNKS grafada na taça
                Não à toa que adotaram a frase “beer for punks” como alcunha para descrever suas cervejas e a Punk IPA talvez seja sua melhor representante nesse quesito, conseguindo juntar características tão adversas, como a delicadeza e a agressividade. Seu aroma é muito perfumado, uma união de flores com frutas cítricas. O sabor também é de frutas cítricas, em destaque laranja e maracujá, além de pêssego, como se este fosse um doce de compota. No final ela sofre uma reviravolta, pois começa doce terminando altamente amarga, um pouco picante, mas também muito aveludada no paladar. Suas notas frutadas mostram-se muito frescas, como se a cerveja tivesse acabado de ter sido colhida, digo, produzida.
Punk IPA (India Pale Ale - 6% APV) *versão chope
                Quado você pensa em chamar uns amigos para beber cerveja no fim de semana ou quando no fim do expediente sua boca fica salivando à espera do primeiro gole a ser ingerido ou quando pretende fazer um jantar a dois e escolhe a cerveja para harmonizar com os pratos, o que você quer na verdade, segundo definição do livro O Catecismo da Cerveja, de Conrad Seidl, é “tomar uma bebida levemente alcoólica, sendo este álcool obtido pela fermentação do amido sacarificado”. Tomar cerveja não significa apenas “beber uma pilsen estupidamente gelada”. Significa beber uma cerveja escura do estilo Stout, não muito gelada, amarga e com notas de café. Significa beber uma cerveja Bock, de cor âmbar, doce e mais alcoólica, causando sensação de calor. Mas também significa beber uma “pilsen estupidamente gelada”, ou melhor, uma Standart American Lager, de cor amarelo-palha, leve e refrescante.  
criação de camadas de espuma nas laterais da taça também chamada de Belgian Lace
A cerveja é o que já estamos cansados de saber e muito mais do que ela tem a nos oferecer.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A verdadeira "óleo velho de motor" – BROOKLYN BREWERY

Existe uma cerveja escocesa chamada Old Engine Oil, batizada com esse nome bastante original pelo seu mestre-cervejeiro, um aficionado por motores e ex-funcionário da Ford, que viu na coloração oleosa da cerveja semelhanças com o óleo velho dos motores que ele manejava. Já experimentei essa cerveja, excelente por sinal, harmonizando lindamente com uma fatia de bolo de chocolate, mas não diria que sua coloração lembra um óleo velho de motor.
rótulo da Porter escocesa Old Engine Oil
Brooklyn Black Chocolate Stout (Imperial Stout - 10% APV)
A premiada Black Chocolate Stout, da cervejaria americana Brooklyn, é quem deveria ser batizada com esse nome. Sua cor é oleosa, densa, negra e opaca. Da próxima vez que for trocar o óleo do seu carro, faça só essa comparação! Ela é extremamente alcoólica, amarga e licorosa, mas também é chocolate ao leite/amargo, ameixa e torrado, muito torrado! Sabe aquele licor de cacau que sempre servem em casamentos? Lembra um pouco, mas sem ser rala como geralmente eles o são, e no aroma pode acrescentar aí toques de baunilha. É uma cerveja sazonal feita sempre no inverno, portanto corra logo atrás da sua sem esquecer de comprar os chocolates para harmonizar com ela.
espuma marrom-escuro coroando o topo

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Venenosas e lácteas – CERVEJARIA BODEBROWN

atual rótulo da Perigosa
Se te oferecessem uma cerveja cujo rótulo apresentasse aquele símbolo de risco tóxico, o da caveira sobre tíbias cruzadas, e essa mesma cerveja se chamasse Venenosa, você teria coragem de tomá-la? Talvez sim, uns diriam, pois à primeira vista soa mais como uma brincadeira lúdica que uma bebida realmente venenosa. Mas não foi o que achou o Ministério da Agricultura que na época obrigou a Cervejaria Bodebrown a alterar nome e rótulo de suas cervejas, para fins de registro junto ao MAPA.
Perigosa Imperial IPA (Imperial IPA - 9,2% APV)
                O verdadeiro perigo reside mesmo nos extremos e potência alcoólica apresentados pelas cervejas da linha Perigosa. Uma verdadeira bomba (no bom sentido) de lúpulo e apresentando mais de 9% de teor alcoólico a Perigosa Imperial IPA traz forte aroma e sabor cítricos, em destaque o maracujá, como se estivéssemos provando uma mousse dessa fruta. Diferente do frescor que sentimos com as cervejas do dia-a-dia, esta aqui esquenta o corpo, é bem amarga e picante, porém também tem um adocidado de caramelo (me lembrou aquelas balas de leite da Kopenhagen), freando o alto amargor e tornando a cerveja fácil de beber para os lúpulomaníacos! Pro consumidor não habituado pode parecer pesada.
Perigosa Imperial Milk Stout (Imperial Stout - 14,5% APV)

negra, opaca, densa, oleosa (a imagem ficou uma m***)
                Outra da linha é a Perigosa Imperial Milk Stout. Milk? Sim, “milk” de leite mesmo. Mas não vá achando que essa cerveja é um Toddynho com álcool, longe disso! Através da adição de lactose, responsável por trazer dulçor à fórmula da receita, é a acidez que mostra-se mais evidente criando sugestivo sabor de iogurte (mas também não vá dizendo que é um Chandelle com álcool!!!). Esta acidez fica mais equilibrada ao “casar” perfeitamente com os demais sabores, que são: café, chocolate, frutas vermelhas, ameixa, vinho do Porto, baunilha. Complexa e equilibrada ela é comercializada atualmente apenas em chope, restrita a poucos lugares do Brasil agraciados com seus barris através de enquete promovida pela Cervejaria Bodebrown para escolher que regiões a receberiam, valendo ressaltar que o Rio de Janeiro ficou em primeiro lugar na votação.