Geralmente a quantidade de público costuma ser o termômetro medidor do sucesso de um evento. Algumas vezes, sucesso de público não necessariamente significa sucesso de evento, pois grande quantidade gera maior cuidado na organização, oferecimento de mais conforto, acessibilidade, variedade de entretenimento, quantitativo de pessoal e também ter um pouco de sorte.
O
Beer Experience, evento cervejeiro que ocorreu no Centro de Convenções Frei Caneca, no bairro da Consolação em São Paulo, em 20/08, foi um sucesso de público e sucesso como evento cervejeiro, tanto que os organizadores o realizarão novamente ano que vem. Como a área era ampla, não lotou a ponto de ficar intransitável e por ocorrer ao longo de todo o dia de sábado, das 10h às 21h, o rodízio de pessoas era grande.
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Velhas Virgens, Cervejaria Colorado, Dama Bier, de Piracicaba, e Backer 3 Lobos |
Além do óbvio (cerveja, cerveja e mais cerveja) o evento também contou com apresentação de três bandas, dentre elas a
Velhas Virgens, que lançou sua própria cerveja, a Indie Rockin’ Beer, cerveja do estilo India Pale Ale, que tem como característica o amargor mais acentuado. Tomei um gole, é boa, com boa carga maltada e sabor de caramelo, mas que poderia ter mais amargor, mas nada que ajustes futuros não a deixem no ponto. Mais cedo teve show de comédia Stand Up e campeonato de
Beer Cards, baralho parecido com o Super Trunfo, mas cujo mote são cervejas belgas (futuramente ele terá uma edição de cervejas brasileiras). Também tinha mesa de sinuca, totó e jogo de disco para entreter os presentes.
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Beer Cards, jogos e sacas de malte servindo como almofadas |
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Klein Bier, Way Beer, Bierboxx e sais da Alma Rústica |
Alguns estandes ofereciam comidas, como sanduíches, petiscos, caldinhos e doces. Em especial, o estande da
Bierboxx ofereceu costelas no barbecue feitas na hora, custava apenas $5 o pratinho e estava deliciosa, repeti várias vezes. O estande da
Alma Rústica oferecia boas opções de sanduíches, mas o mais interessante foram os sais aromáticos de cerveja Stout, defumado e ervas, que estavam vendendo. Provei e aprovei todos.
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Forest Bacuri (Specialty Beer - 3,8% APV) |
Bom, vamos a atração principal do evento, a cerveja! Eram mais de 100 opções de rótulos para degustar, em chope ou garrafa, e muitos lançados exclusivamente no evento, como por exemplo a já citada cerveja da Velhas Virgens. Também marcou estréia no evento a linha engarrafada da cervejaria
Amazon Beer, do Pará, em destaque a cerveja Forest Bacuri que usa o fruto amazonense de mesmo nome na receita. A preferida de minha namorada, ela era bem refrescante, com leve acidez e forte presença do citado fruto. Confesso que antes não conhecia essa fruta regional e tão brasileira, posso dizer que só tomei conhecimento dela através da cerveja. Outras que estrearam foram as cervejas da linha 3 Lobos, da mineira
Backer, cervejas que antes de prontas já polemizaram ao serem acusadas de plagiarem os rótulos da americana
Flying Dog. Ousaram também no uso de ingredientes não tão usuais em cervejas, como capim limão, casca de laranja, açúcar mascavo e barris de umburana usados para maturação. Não as provei no dia, pois já tinha tomado dias antes e, plágios à parte, são uma maravilha.
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geléia de damasco e chope ESB da GaudenBier |
No estande dos curitibanos do
Clube do Malte vendiam geléias e molhos a base de cerveja, criação própria deles que vem expandir o uso da bebida na criação de outros tipos de produtos. Também serviram chopes dos conterrâneos da
GaudenBier e experimentei deles o ESB (Extra Special Bitter) que muito me agradou. Ele passava pelo método de dry hopping (método responsável em trazer mais aroma à cerveja pela nova adição de lúpulo durante a maturação ou fermentação) com o lúpulo Styrian Golding, tornando ela mais aromática e fresca, que ainda tinha alto amargor, mas equilibrado com boas notas de caramelo. Outra curitibana presente foi a
Way Beer, com quase todas as suas cervejas, em chope, chegando a esgotar algumas, como a Amburana Lager, muito bem falada, que infelizmente não provei. Já a Irish Red Ale pude provar e era aveludada, doce e com sabor muito puxado para bala toffe.
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Marco Falcone, box da Mamãe Bebidas e Carolina Patrus |
O evento valeu também para conhecer pessoas, iniciar amizades além do mundo virtual e reencontrar algumas já conhecidas. Agradeço a gentileza do Guilherme Balbin, um dos organizadores que facilitou minha entrada mesmo sem convite, já que o mesmo não tinha chegado a tempo até minha residência. Raphael Rodrigues, do estande da importadora Tarantino e do blog responsável em cobrir o evento, o
All Beers, foi muito simpático, inclusive me deixando provar algumas cervejas do seu copo e da sua esposa. Reencontrei o sempre atencioso Marcelo Carneiro, da
Cervejaria Colorado, que dias antes tinha participado de um encontro cervejeiro em Niterói, presente com os chopes da Colorado, inclusive uma recém lançada, e ainda sem nome, do estilo American Brown Ale que leva adição de castanha do pará. Tietei o Marco Falcone, lenda viva da mineira
Falke Bier, representada pelo estande da loja
Mamãe Bebidas, onde finalmente conheci a Ana Carolina Patrus, conhecida antiga, mas apenas do mundo virtual, onde sempre compro minhas cervejas, que me brindou com chopes da Falke, provando que o mundo cervejeiro está repleto de gentilezas. Também encontrei o Edu Passarelli, cujo blog
Edu Recomenda foi por anos uma grande fonte de meu conhecimento cervejeiro, mas que atualmente é postado pela
Folha de São Paulo. Além de blogueiro, é gastrônomo, sommelier de cervejas e proprietário da
Melograno, forneria e empório de cervejas localizada na Vila Madalena. Na hora de tirar a foto ele fez questão de encher meu copo com a
St. Peter’s Winter Ale, já que nossos copos estavam vazios e copo de cervejeiro sempre deve estar cheio na foto! A Melograno é a fornecedora no Brasil das cervejas dessa cervejaria inglesa e também das escocesas da
Traquair. Provei a Traquair Jacobite Ale, que antes tinha filado um gole de copo alheio, e mostrou-se uma bebida muito fina, com sabores de ameixa e um pouco de lactose. E ainda encontrei os amigos cariocas da
BeerJack. É, o mundo cervejeiro é muito pequeno!
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box da Melograno, fornecedora exclusiva das inglesas da St. Peter's Brewery, e Eduardo Passarelli |
Bebi uma boa variedade de estilos de cerveja, mas sem exagerar na quantidade. Fiquei no brilho, mas não embriagado, e se me pedissem pra escolher minha preferida das que bebi teria uma resposta na ponta da língua. O estande da
Cervejoteca contava com várias caseiras paulistas, como a Sauber Beer, que já tinha provado quase todas de sua variada linha, inclusive já
postei sobre sua cerveja com adição de abóbora, a
Mestre das Poções, cuja peculiaridade é possuir um Mestre Alquimista responsável pelas receitas que são influenciadas pelo zodíaco e por eventos astrônomos, oferecendo cervejas únicas e nunca repetidas, e a
Cervejaria Brix, que tive o prazer de degustar duas crias suas, a Madera, uma Old Ale maturada em carvalho trazendo notas envelhecidas, alto frutado e potência alcoólica (não resisti e acabei trazendo uma garrafinha para uma degustação com mais calma) e a Oatmeal Stout, que voltando ao início do parágrafo respondo que foi essa a minha preferida do evento. Nas cervejas desse estilo é adicionado aveia à receita, responsável por oferecer maior cremosidade ao corpo. A Brix foi além adicionando nibs (amêndoas) de cacau torrados durante a maturação, oferecendo toques de chocolate amargo. Mas ela foi mais além! No dia do evento adicionaram o Randall à chopeira, equipamento inventado pelo americano Sam Calagione, dono da
Dogfish Head, originalmente um filtro cheio de lúpulos onde a cerveja passa antes de ser servido ao copo, mas a Brix trocou o lúpulo pelos nibs de cacau, e os aromas e sabores de chocolate amargo ficaram muito mais evidentes, sentidos a distância.
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Madera (Old Ale - 9% APV), servida em chope ou garrafa no box da Cervejoteca |
A bola fora ficou por conta das poucas fotos que tirei do evento, culpa dos celulares, meu e de minha namorada, que estavam com a bateria fraca, ficando de lição para um próximo evento, e pela cerveja Poção de Trigo da Lua Cheia, que trouxe uma garrafa, ter vazado na mochila na volta para casa. O jeito foi abri-la e tomá-la dentro do ônibus, a temperatura ambiente e sujando todo o chão com o derramamento. Não sei se o transporte de bebidas alcoólicas é restrito apenas aos carros ou os ônibus também estão incluídos nesse ridículo projeto de lei recentemente aprovado pelo senado, mas felizmente não fui expulso do ônibus.
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Poção de Trigo da Lua Cheia (Cerveja de Trigo - 5/7% APV), obrigatoriamente degustada no ônibus da 1001 |
Bebendo em São Paulo, bebendo na estrada, bebendo em qualquer lugar, não vejo a hora de partir para a próxima tour cervejeira. Até lá!